Histórias contidas nas páginas de um sebo

em 15 de agosto de 2019

Imagem aleatória que eu peguei da internet porque a maravilhosa que vos fala esqueceu de tirar foto do sebo.
Crônica escrita no início de julho mas que só estou postando agora
 por motivos de não sabia se devia postar ou não don't judge me, i'm shy.
Espero que gostem <3

         Essa semana eu finalmente criei coragem. Juntei em uma mochila alguns dos títulos que compunham a minha estimada coleção, mas que já não faziam sentido dentro dessa composição. Um total de dez livros, dos mais parrudos até os menos robustos. Ajeitei-os com o mesmo cuidado de sempre e, já em clima de despedida, parti levando-os ao encontro de seu novo lar – espero eu que, provisório. 
         Ao chegar em nosso destino, me encaminhei ao balcão de atendimento para fazer as apresentações. Não a minha. Eu pouco importo nessa história. Mas a dos livros. Tanto tempo presos dentro de uma estante com certeza deixou-os ansiosos por novos ares. Não sei se os ares daquele ambiente era bem o que eles esperavam. 
         Amontoados ali e em todos os cantos, se encontravam dezenas, talvez centenas ou milhares de semelhantes. Uns mais experientes que outros. Outros, tão novatos e perdidos quanto eles. As mãos que agora os seguravam eram ágeis e frias. Avaliativas. Não tinham o cuidado e apreciação que outrora encontraram em minhas mãos. Ali eles eram apenas produtos – e com um valor determinado. 
         – Se você quiser vender, o máximo que posso te dar são vinte reais. – anunciou o atendente. – Compensa mais trocar. Pra troca o crédito é de cinquenta e cinco. 
         O valor me pegou um pouco de surpresa. Já imaginava que não faria um bom negócio vendendo aqueles títulos, mas até mesmo o valor para troca era abaixo do esperado. Dei uma última olhada para a pilha que antes enfileirava uma das prateleiras da minha estante. Era como se pedissem para voltar para casa comigo. 
         Apesar da dificuldade em dizer adeus, eu sabia que, possivelmente, estava tomando a melhor atitude. Livros devem ser lidos, e suas histórias, contadas. Devem ser mantidos apenas quando falam com você, te tocando de uma maneira única. No caso daqueles títulos me encarando, eu sabia que eles ansiavam por finalmente encontrar os leitores que seriam capazes de escutar suas vozes, e fazê-las ecoar. Eu não era essa leitora.
         Aceitando os créditos para troca, eu me despedi pela última vez, fazendo uma oração silenciosa para que logo encontrassem, de fato, os seus destinos finais – de preferência em uma prateleira cheia de novas e empolgantes narrativas como lombadas vizinhas em sua nova casa. Parti então ao encontro de novas histórias. Histórias essas que, hoje, fizessem sentido dentro da minha própria história. 
         Subi os degraus para o segundo andar, onde as encontrei abarrotando estantes e mais estantes. Era como se cada uma delas sussurrasse para mim, tentando chamar a minha atenção enquanto eu passava os olhos por cada prateleira. 
         Ver tantos títulos distribuídos em tão pouco espaço me fez ficar preocupada com o futuro dos livros que ali deixei. Já imaginava encontrar lombadas gastas e amareladas, perceber a ação do tempo e da poeira em mais de um exemplar... mas não esperava encontrá-la em cada um deles. 
         Quando a gente ama e se importa tanto com os livros, acabamos, inconscientemente, esperando que todos os amem e se importem da mesma forma. Ver o estado de conservação e o modo como cada exemplar era tratado ali, em um local onde se falava e respirava literatura, me fez sentir um aperto no peito. 
         Tentei focar a minha atenção nos títulos que preenchiam cada lombada em que meus olhos pousavam. Muitos me eram familiares, já outros eram completamente estranhos. Alguns estavam tão gastos que mal era possível ler o que estava escrito. 
         Selecionei alguns deles para analisar mais atentamente. O estado em que se encontravam não era dos melhores, mas superava – e muito! – o de alguns de seus vizinhos de estante. Além de reparar na conservação do livro, não pude deixar de notar o valor cobrado por cada um deles. Me fez sentir revoltada. 
         O preço estipulado não parecia justo. Não estava de acordo com a conservação e, tenho certeza, com o preço pelo qual o livro foi comprado – ou trocado. Era possível encontrar o mesmo título em lojas online sendo vendido por um valor bem mais em conta. Também não me parecia certo cobrarem a mais por um item que nem mesmo recebia os merecidos cuidados. 
         Quase como por instinto, folheei as páginas do livro que estava em minhas mãos. Fazia tanto tempo desde a última vez que alguém fizera isso que eu praticamente podia ouvi-lo suspirar de satisfação. Todos precisam de um afago de vez em quando, sejam eles livros ou pessoas. 
         Cercada por tantas histórias carentes de atenção eu nem vi o tempo passar. O fim da tarde logo chegou, e com ele, a minha excursão entre os livros. Dentre todos que compartilharam aquela tarde comigo, quatro foram os escolhidos para encontrarem um novo lar. No caso, o meu. 
         Naquele dia eu deixara dez livros para trás. Uma parte da minha história permanece com eles, intrincada em cada uma de suas páginas. Assim como as histórias deles também deixaram uma marca em mim, que ficará para sempre na memória. Em contrapartida, quatro novos títulos vieram para casa comigo. Suas histórias ainda não me foram contadas, assim como seus personagens continuam um grande mistério. Acredito que essa é a magia da literatura, onde todo um universo reside dentro de um objeto tão singelo, apenas esperando você dar uma chance para ele te transportar para os mais diversos mundos e para as mais incríveis histórias. Tudo o que você precisa fazer é virar a primeira página.

Texto autoral. Plágio é crime, amiguinhos.
Beijos de luz :*

17 comentários:

  1. Oi, Rafaela como vai? Eu também faço isso quando começa a juntar muitos livros que eu já li e reli muitas vezes eu os levo para doação. Adorei o seu relato, abraços!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com

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    1. Oi, Luciano! Eu vou bem, e você? ^-^
      Confesso que estou começando essa "prática do desapego" agora, mas estou gostando bastante. Não faz sentido manter livros que não nos agradaram ou que não temos mais vontade de ler, né?
      Fico feliz que tenha gostado :D

      Um super beijo e volte sempre! :*

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  2. Passei exatamente por isso uma vez. Dói tanto deixar eles para trás, me sinto como se me despedisse de alguém realmente especial. E eles são. Estou criando o hábito de levar alguns livros para o sebo e sinto aquele aperto no peito porque sei que li eles vão ficar em estantes também como ficavam comigo, porém com uma chance um pouco maior de serem relidos.

    Abraço,
    Parágrafo Cult ★

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    1. Oi, Larissa!
      É inevitável não sentir um aperto (mesmo que pequeno) no coração quando se trata de desapegar dos nossos amados livrinhos, né? Acho que não tem jeito mesmo. Mãaas, fica a esperança de que com o tempo isso melhore e a gente consiga focar na ideia de que esses livros farão parte da história de outros leitores, ao invés de ficarem parados e esquecidos na nossa estante.

      Um super beijo e volte sempre! :* <3

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  3. Oi, Rafaela!

    Acho uma tarefa muito difícil desapegar dos meus livros. Mas quando compramos em um sebo, trazemos um livro com uma outra história além daquela que ele conta.
    Adorei a crônica.

    Beijos
    Construindo Estante || Promoção de aniversário do blog

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    1. Oi, Eliana!
      Siiiiim, livros já lidos por outras pessoas contam com uma bagagem única. É sempre uma experiência válida, não é mesmo?
      Fico feliz que tenha gostado da crônica! ^-^

      Um super beijo e volte sempre! :* <3

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  4. Oi
    eu gostei do poste, só levei uma vez alguns livros meu para trocar em um sebo e confesso que não foi uma boa experiência, porque onde eu levei tinha livro usado vendo praticamente no mesmo preço de novos e os que tinham disponível para troca não me interessavam, ainda peguei alguns , mas já me desfiz deles doando.

    http://momentocrivelli.blogspot.com

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    1. Oi, Denise!
      Eu acho a experiência de ir ao sebo muito interessante pra quem é leitor, mas, sem dúvidas, ela nem sempre é das mais positivas. Acredito que existam sebos que ainda valham a pena, com um acervo melhor conservado e com preços mais justos, mãaaas, infelizmente, não foi em um sebo desses que nós duas fomos, não é mesmo? kkkkkkkk
      Ainda assim, acho que a experiência é sempre válida - embora eu muito provavelmente, no futuro, procure uma outra forma de desapegar dos meus livros que não envolva o sebo.

      Um super beijo e volte sempre! :* <3

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  5. Que lindo, Rafa!
    Sua aventura no sebo se tornou uma história digna de fazer parte de um livro, muito bonita sua construção, muito gostoso o desenvolvimento que você criou, adorei demais!

    Realmente, eu tambem acho que os preços às vezes em sebo são absurdos! To tentando vender alguns e trocar outros pelo skoob para poder pegar outras histórias.
    Adoro colecionar livros (principalmente os que gostei tanto depois de ler), mas alguns a gente sabe e simplesmente sabe que não devem mais ficar com a gente ou que a gente não vai ler... Então é melhor eles encontrarem outro lar mesmo .
    Adoro garimpar nos sebos rrsrsrs só minha rinite que ataca -_-'

    ótima semana, adoro seus textos, querida!
    Beijocas da Pâm
    Blog Interrupted Dreamer

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    1. Oi, Pâm!
      AWWWWWWWN, QUE LINDA!!! *-* Seu comentário me deixou sorrindo que nem boba aqui (sério!). Fico MEGA feliz que tenha gostado! <3

      Vish, rinite e sebo realmente não parecem ser uma combinação que dê muito certo, mas quem resite ao charme de um bom e velho (literalmente XD) sebo, não é mesmo?
      Apesar de ter percebido que, de fato, os preços do sebo não compensam, ainda assim continuo adorando visitá-los e passar um bom tempo perdida entre aquelas estantes.
      Também estou pensando em formas alternativas de desapegar de alguns outros títulos da minha coleção. Acredito que as trocas do Skoob e os anúncios via redes sociais estão compensando bem mais que uma troca/venda no sebo. Realmente uma pena \:

      Um super beijo e uma ótima semana pra você também! :* <3

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  6. Oi, Rafaela! Também morro de vergonha de postar meus textos no blog haha. Mas um dia ainda vou compartilhá-los..
    Achei o texto a coisa mais linda ♥ Estava pensando hoje mesmo em doar alguns livros meus para a biblioteca que frequento, apesar de saber que vou sentir um peso no coração ao fazer isso..
    São livros que foram importantes em um período da minha vida, mas que não tem mais sentido tê-los comigo. Igual a protagonista do texto sentiu :)
    Toda vez que eu pego um livro na biblioteca também sempre fico imaginando quem foi que o deixou ali, e os motivos que o levaram a fazer isso.. É bem legal ficar criando teorias, né?
    Mais uma vez, parabéns pelo texto e espero ver mais deles por aqui ♥

    Estante Bibliográfica

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    1. Oi, Laura!
      Ai, vergonha é um troço, né? Apesar de escrever desde sempre, são raras as vezes que consigo vencer a minha timidez e publicar o que escrevo. To tentando ficar mais "corajosa" e colocar a cara no sol agora, com a faculdade - caso contrário, que tipo de jornalista eu vou ser? (eis um ótimo questionamento XD)

      Como eu disse em um outro comentário, acho inevitável não sentir essa dorzinha no peito na hora de praticar o desapego dos nossos tão queridos livros, mãaaas, não tem jeito né? Melhor pensar que, desapegando, outra pessoa vai ter a chance de conhecer aquela história e, quem sabe, se apaixonar por ela como nós jamais seríamos capazes. Acho que quando a gente foca nesse tipo de pensamento fica tudo mais leve e um pouquinho menos doloroso.

      AWWWWWWN, MUITO OBRIGADA! Fico sorrindo feito uma maluca quando vejo que as pessoas gostaram dos meus textos. Prometo me esforçar para vencer a vergonha e postar com mais frequência <3

      Um super beijo e volte sempre! :*

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  7. Estou nessa fase de desapego também. Resolvi escolher alguns que merecem sair da minha estante e conhecer novos donos que os amem tanto quanto eu amei. Pensei em levar para o sebo, mas sabia que ia passar pela mesma situação que você. Não sei se gostaria de deixá-los lá pegando poeira...
    Enfim, espero que os seus encontrem logo um novo dono e que sejam felizes em novas estantes limpinhas.

    Mundinho da Hanna | Desapega

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    1. Oi, Hanna!
      Realmente, essa situação com os sebos é complicada. Acredito que uma visita é sempre bem vinda, mas no que diz respeito a troca e venda de livros, possivelmente a internet se mostra um meio muito mais eficaz (e que vale bem mais a pena) hoje em dia \: .
      Ficamos as duas na torcida então! <3

      Um super beijo e volte sempre! :*

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  8. Oi, Taynara!
    Fico feliz que tenha gostado do texto - e que esteja gostando do conteúdo aqui do blog. Opiniões são sempre muito bem vindas! ^-^

    Um super beijo e volte sempre! :* <3

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  9. Oi, Rafa

    Aqui no meu bairro há um sebo e eu me identifiquei muito no seu texto. Eu tinha certa dificuldade de me desapegar dos meus livros, mas ano passado finalmente tomei coragem. Limpei a estante e selecionei uns títulos que já não me interessavam mais e os levei ao sebo para saber como que funcionava. No fim das contas eu tinha 75 reais de crédito e fiquei muito tempo lá, perdida, observando a maneira que os títulos eram estocados e me perguntando se realmente era uma boa ideia deixar meus exemplares tão bem cuidados ali. Haahaha
    Agora já me acostumei e até gosto do caos que encontro quando vou naquele sebo fazer minhas trocas.
    Adorei o texto!

    Beijos
    - Tami
    https://www.meuepilogo.com

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    1. Oi, Tami!
      Fico feliz que tenha gostado e se identificado com o que escrevi! ^-^
      Acho que é tudo uma questão de costume, né? Tanto de conseguir desapegar dos livros como a parte de deixá-los ir, de fato - mesmo que seja em um lugar que não pareça ter o mesmo cuidado que a gente.
      Espero um dia poder me acostumar com os sebos também XD

      Um super beijo e volte sempre! :*

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A opinião é livre, não pode nem deve ser violentada.
(Baltasar Gracián y Morales)