Resenha: Minha vida (não) é uma comédia romântica - Lola Salgado

em 22 de dezembro de 2020


Autora: Lola Salgado
Ano: 2018
Páginas: 349
Formato: E-book

Sinopse: Chloe Tavares não aguenta mais assistir de camarote seus planos indo por água abaixo. Já desistiu de três faculdades, cansou de lidar com as implicâncias de tia Célia e, para piorar, ser atendente de telemarketing na CarreTel está longe de ser o emprego dos sonhos (o tarado que telefona diariamente é um dos motivos). Ela precisa tomar uma atitude e dar um jeito em sua vida. Por que, então, não começar com um amor como o das comédias românticas? É o item mais fácil da lista, certo? Porém, ela nem podia sonhar que acabaria sendo amaldiçoada no caminho. E, dentre todas as coisas saindo do controle, talvez a pior seja o fato de o seu melhor amigo, Tales Gentil, começar a provocar coisas esquisitas em seu coração. 


Publicado em 2018 de forma independente na Amazon, “Minha Vida (não) é uma Comédia Romântica” traz a história de Chloe, uma mulher de 25 anos que se encontra um tanto quanto perdida na vida. 

Sendo a filha do meio, ela carrega o estigma de não ser tão bela quanto sua irmã caçula e nem tão bem sucedida quanto sua irmã mais velha. Enquanto ambas parecem estar encaminhadas e já sabendo que rumo seguir, Chloe sente ser a única que ainda não descobriu o seu caminho, o seu propósito na vida – sim, galera, altas crises existenciais. O fato de já ter desistido de três faculdades e de ter uma tia que vive implicando e jogando seu aparente fracasso na sua cara não ajuda muito. E, pra completar, ainda tem um tarado que liga diariamente pro seu trabalho pra atormentar a paz das funcionárias da CarreTel. Realmente, se tem alguém precisando de um banho de sal grosso, esse alguém é a Chloe – que fase, meus amigos. 

Determinada a tomar as rédeas da situação em que se encontra rumo a vida adulta que sempre sonhou, ela decide se inspirar em suas tão queridas comédias românticas e ir atrás do que parece ser o item mais fácil da lista: encontrar o grande amor de sua vida – porque né, molezinha. 

No entanto, como a vida da Chloe (não) é uma comédia romântica e azar nunca é demais, nossa mocinha acaba insultando uma cigana que, em resposta, roga uma praga pra ela, dificultando um pouquinho mais a sua busca – realmente, aquele banho de sal grosso não seria nada mal agora. 

"Droga, por que eu não tinha sorte no amor? Aquele ditado diz sorte no amor, azar no jogo, e vice-versa. Mas eu tinha azar nos dois. Só isso. Não havia um equilíbrio na minha vida."

A partir disso, a incessante saga de Chloe atrás do cara ideal tem início e, preciso dizer, essa busca incansável é exatamente o que vai te fazer amar ou odiar a protagonista dessa história. 

Diferentemente da maioria dos livros que leio, esse aqui não foi do tipo que me cativou logo de cara, e confesso que tive que insistir na leitura dos primeiros capítulos pra finalmente engatar na história. Muito disso se deve ao fato da Chloe, a princípio, se mostrar uma personagem muito imatura e irritante pro meu gosto e, como a história é narrada em primeira pessoa, isso acabou dificultando um pouco a minha conexão com a narrativa, já que na maioria das vezes eu só queria entrar nas páginas do livro pra dar um chacoalhão na personagem – sim, meu povo, as vezes a gente chega nesses extremos e não, não me julguem porque vocês também podem chegar a esse ponto, ok? 

Com o desenrolar da história, vamos entendendo melhor toda a insegurança da personagem e o porquê dela estar tão desesperada para encontrar o amor. Isso acaba despertando a empatia no leitor e gerando uma identificação já que, venhamos e convenhamos, quem nunca se sentiu perdido na vida, não é mesmo? 

"Quando criança, olhava para as pessoas mais velhas e me perguntava se seria igual. Todos pareciam tão decididos, inteligentes e independentes... Mas eu continuava a mesma criança assustada, presa no corpo de um adulto. Era frustrante."

Também conhecemos melhor os personagens coadjuvantes da trama, como a família da Chloe e seu melhor amigo Tales. Achei realmente incrível como a autora conseguiu criar personagens tão maravilhosos e dignos de amor e outros tão insuportáveis a ponto de você realmente querer estrangulá-los – olá, tia Célia, também conhecida como a definição perfeita da palavra DESNECESSÁRIA. Ô mulher irritante! 

Durante grande parte da narrativa, acompanhamos as desventuras dos encontros frustrados de Chloe na sua busca pelo cara ideal. Confesso que, apesar de ter me divertido muito com um encontro específico, na maioria das vezes eu só conseguia ficar irritada com todo o desespero e a falta de amor próprio da personagem. Enquanto lia, só conseguia pensar no quanto uma terapia teria feito a diferença na vida da Chloe – é sério, gente!

Não só na questão de se encontrar profissionalmente mas também em toda essa obsessão por encontrar alguém, depositando o peso da própria felicidade nas mãos de outra pessoa. Esse foi, inclusive, um dos pontos que mais me chamou a atenção na história e que achei que seria melhor trabalhado ao longo da narrativa – eis o motivo da minha frustração.

"Eu não conseguia agir com naturalidade. Não dava. Não quando só conseguia pensar que cada palavra, cada gesto, cada coisinha poderia culminar ou não em uma aliança no meu dedo." 
(e tudo isso com um cara que acabou de conhecer. Como eu disse, terapia. URGENTE!)

A autora fez parecer que o foco da história seria justamente na jornada de autoconhecimento da Chloe, principalmente dela percebendo que não precisa de um outro alguém pra ser feliz. No entanto, depois de tantos encontros frustrados e quando ela finalmente parece perceber a sua autossuficiência, a autora deu um jeito de colocar um romance na história que, ao meu ver, acabou invalidando toda a jornada da personagem – ou, no mínimo, diminuindo bastante o seu impacto. 

Não me levem a mal, eu realmente adorei o mocinho, mas acho que o romance aconteceu no momento e no contexto errado. Normalmente, o romance acaba sendo um dos pontos altos pra mim em um livro, mas não foi o que aconteceu com esse aqui. Apesar de ter me divertido e ter achado fofa a relação entre os dois, acredito que a história teria ficado mais interessante sem esse elemento, já que ele acabou mudando o foco de uma história de amadurecimento e autodescoberta para um romance de “eu estava aqui o tempo todo só você não viu”. 

Apesar disso, a história também trouxe gratas surpresas ao mostrar representatividade com uma protagonista negra, além de abordar temas ainda pouco explorados na literatura, como a transição capilar e a descoberta da própria identidade representada em um cabelo. As discussões e reflexões geradas a partir disso foram realmente muito interessantes – e tocantes – de se acompanhar, se mostrando um dos pontos altos da história. 

"A felicidade não deveria caber em um molde pré-definido, mas, em vez disso, se adequar a cada pessoa."

De um modo geral, “Minha Vida (não) é uma Comédia Romântica” teve seus altos e baixos mas, no fim, acabou se mostrando uma leitura divertida e que, de quebra, trouxe algumas reflexões pertinentes. Apesar de ter me irritado bastante com a Chloe, gostei de acompanhar o desenvolvimento da personagem e poder vê-la encontrando o próprio caminho. Também gostei muito da escrita da autora, principalmente do seu talento para desenvolver personagens interessantes, capazes de fazer com que nos envolvamos em suas histórias – sejam eles coadjuvantes ou protagonistas. 

De resto, só posso dizer que, mesmo tendo me irritado e frustrado em alguns pontos, a autora fez tudo valer a pena com um epílogo que eu não sabia do quanto precisava até me deparar com ele. Sério, foi simplesmente o meu momento de maior alegria nessa leitura, e eu não posso dizer mais nada para não soltar spoilers. Se você ficou curioso vai ter que dar uma chance para esse livro que, em um misto de chick lit e new adult, consegue cumprir a proposta de divertir aqueles que se dispõem a lê-lo.

Esse post faz parte dos conteúdos que eu desenvolvi no meu Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo. Falei um pouco mais sobre nesse post aqui ❤

2 comentários:

  1. Oi, Rafaela. Como vai? Eu estou namorando este livro, mas ainda não tive oportunidade de lê-lo. Pelo que li em sua resenha, aliás ficou ótima. Parece-me uma obra com uma baita representatividade não é mesmo! Achei muito interessante a protagonista ser negra e a descoberta de sua própria identidade representada em um cabelo. Que bom que curtiu a leitura, apesar das ressalvas citadas. Aproveitando o ensejo desejo-lhe boas festas à você e sua família. Um abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Adorei conhecer seu blog, tem muito artigos bem interessantes.savefrom instagram

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(Baltasar Gracián y Morales)